Durante anos, o senhor Renato Maurício Prado tratou como torneio “Me Engana que eu Gosto”, em sua coluna no The Globe, o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Tempo de interesses escusos por ele defendidos e desafetos na “Federação do Caixa” e na Colina do “Ex-Deputado”. Tempo em que seu empregador, embora já detivesse o direito de transmissão sobre o tal do campeonato, ainda não mandava e desmandava nele ao seu bel-prazer.
Naquela ocasião, o campeonato era disputado por 12 clubes, mantidos em duas chaves com 6 deles. Semifinal, final em cada turno ou fase, final com os vencedores de cada uma delas, que decretava o campeão. Com 12 clubes, o grande que tropeçasse contra um pequeno, invariavelmente, ficava fora da disputa do turno. Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo passaram pela experiência mais de uma vez. Além disso, os chamados clubes pequenos se preparavam com muito mais antecedência. Ainda não eram tão nefastos os efeitos da legislação sobre os clubes de menor investimento e, assim sendo, podia-se contratar em outubro para um campeonato que só começaria no fim de janeiro. É verdade, a pré-temporada dos menores começava bem antes, o que significava uma boa vantagem no tiro curto de 12 clubes. Por fim, pequenos e grandes atuavam nos estádios de seus adversários. Ou seja, quem tinha o mando de campo o exercia efetivamente, não só em presença no lado esquerdo da tabela.
O que se tem hoje é sensivelmente diferente, embora a fórmula seja semelhante. São 16 clubes em duas chaves de 8. Isso significa que eventuais tropeços de um grande podem ser remediados adiante dentro do próprio turno. Os clubes pequenos, que são os maiores prejudicados com a legislação em vigor, responsável pela destruição de suas divisões de base (o que lhes sustentava), contratam em cima da hora. Normalmente jogadores sem mercado, em final de carreira ou que estão parados há meses. Sequer exercem mandos de campo, pois o sistema de comunicação que manda e desmanda agora na competição e que dá voz e sustento ao senhor Prado alega que apenas 3 ou 4 estádios possuem condições de transmissão das partidas. Não é incomum que o time de Friburgo seja mandante em Volta Redonda, ou que um time da Baixada ou da Região dos Lagos seja mandante em São Januário ou no Engenhão. Exatamente nas partidas contra os grandes clubes, facilitando, e muito, suas tarefas.
Comparando as distinções acima demonstradas entre o que era o “Me Engana que eu Gosto” do senhor Prado e o que é o Estadual do Rio de Janeiro agora, procura-se entender aonde o colunista do The Globe perdeu a sua volúpia por denegrir esta competição. Não se sabe se na hora em que viu morto um de seus desafetos pessoais; não se sabe se quando viu afastado aquele que causava agruras para seu clube de coração (os próprios flamenguistas “condecoraram” Eurico esta semana com esta honra, durante a apresentação do leiloeiro gaúcho contratado pela Globo para o Flamengo); não se sabe se no momento em que seus empregadores lhe puxaram a orelha e disseram: “está tudo dominado, para de bater no que é nosso”.
Fato é que nunca houve fórmula tão propícia de campeonato para merecer o tratamento “Me Engana que Eu Gosto” como a atual. Mesmo porque há outro elemento nefasto que promete voltar à baila durante esta competição (vide período de contratações): a parcialidade descarada de parte da imprensa esportiva, a omissão de outra parte e a conseqüente produção de arbitragens capciosas sempre a favor todos nós sabemos de quem.
Não, não arrisquemos afirmar que esta semana começa o maior “me engana que eu gosto” de todos os tempos. O Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, apesar do poder desmedido que a Globo exerce agora, merece respeito. No entanto, é preciso que os alertas sejam acionados. Voltado para interesses comerciais e de audiência, a competitividade fica congelada em segundo, terceiro, quarto plano. E de cartas marcadas o torcedor começa a ficar cheio.
Por João Carlos Nóbrega
http://www.casaca.com.br/home/2011/01/16/o-que-vai-comecar-e-o-me-engana-que-eu-gosto/
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